quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Ao meu menino...



Num meio-dia de fim de primavera eu tive um sonho como
uma fotografia: eu vi Jesus Cristo descer à Terra.
Ele veio pela encosta de um monte, mas era outra vez
menino, a correr e a rolar-se pela erva
A arrancar flores para deitar fora, e a rir de modo a
ouvir-se de longe.
Ele tinha fugido do céu. Era nosso demais pra
fingir-se de Segunda pessoa da Trindade.
Um dia que DEUS estava dormindo e o Espírito Santo
andava a voar, Ele foi até a caixa dos milagres e
roubou três.
Com o primeiro Ele fez com que ninguém soubesse que
Ele tinha fugido; com o segundo Ele se criou
eternamente humano e menino; e com o terceiro Ele
criou um Cristo eternamente na cruz e deixou-o pregado
na cruz que há no céu e serve de modelo às outras.
Depois Ele fugiu para o Sol e desceu pelo primeiro
raio que apanhou.
Hoje Ele vive na minha aldeia, comigo. É uma criança
bonita, de riso natural.
Limpa o nariz com o braço direito, chapinha nas poças
d’água, colhe as flores, gosta delas, esquece.
Atira pedras aos burros, colhe as frutas nos pomares,
e foge a chorar e a gritar dos cães.
Só porque sabe que elas não gostam, e toda gente acha
graça, Ele corre atrás das raparigas que levam as
bilhas na cabeça e levanta-lhes a saia.
A mim, Ele me ensinou tudo. Ele me ensinou a olhar
para as coisas. Ele me aponta todas as cores que há
nas flores e me mostra como as pedras são engraçadas
quando a gente as tem na mão e olha devagar para
elas.
Damo-nos tão bem um com o outro na companhia de tudo
que nunca pensamos um no outro. Vivemos juntos os dois
com um acordo íntimo, como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer nós brincamos as cinco pedrinhas no
degrau da porta de casa. Graves, como convém a um DEUS
e a um poeta. Como se cada pedra fosse todo o Universo
e fosse por isso um perigo muito grande deixá-la cair
no chão.
Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos
homens. E Ele sorri, porque tudo é incrível. Ele ri
dos reis e dos que não são reis. E tem pena de ouvir
falar das guerras e dos comércios.
Depois Ele adormece e eu o levo no colo para dentro da
minha casa, deito-o na minha cama, despindo-o
lentamente, como seguindo um ritual todo humano e todo
materno até Ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma. Às vezes Ele acorda de
noite, brinca com meus sonhos. Vira uns de pena pro ar,
põe uns por cima dos outros, e bate palmas, sozinho,
sorrindo para os meus sonhos.
Quando eu morrer, Filhinho, seja eu a criança, o mais
pequeno, pega-me Tu ao colo, leva-me para dentro a Tua
casa. Deita-me na tua cama. Despe o meu ser, cansado e
humano. Conta-me histórias caso eu acorde para eu
tornar a adormecer, e dá-me sonhos Teus para eu
brincar.

Versão: Maria Bethânia.

Autor-Alberto Caeiro:

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.

Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -

Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.

Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
“Se é que ele as criou, do que duvido.” -
“Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres.”
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios

Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo

E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

terça-feira, 19 de agosto de 2008


Cada qual pode voar,quando decidir que é capaz de o fazer.Deixa a visao que tens dentro do coracao ser o projecto da tua vida ...SORRI...

Se um dia hei-de ser po,cinza e nada...Que seja a minha noite uma alvorada...Que saiba me perder para depois me encontrar.

Amor é...


"Amor é um qualquer não sei que, que surge não sei de onde e acaba não sei como."

Jorge Cudery

Se tu soubesses...


Ah! Se tu soubesses o gosto doce do teu beijo. Se tu soubesses o quanto ele é bom e saboroso, e o quanto acalenta o coração e a alma, talvez entendesses o encanto das coisas do coração e do amor ao primeiro encontro dos nossos lábios. O destino às vezes cruza os caminhos das pessoas numa tentativa de fazer com que muitas coisas renascessem das cinzas para uma longa e complicada vida cheia de fantasias, de desejos, de sonhos e de sentimentos reais e profundos.

O encanto do teu beijo fez com que eu acordasse novamente para a vida de forma que jamais imaginei, porque até ao momento dos meus lábios encontrarem os teus lábios pela primeira vez, eu não tinha outro alguém no meu coração e nos meus pensamentos, e achava que nunca mais iria encontrar outro alguém tão especial como tu para amar. A vida me fez sofrer por um amor perdido e ao mesmo tempo, fez com que eu descobrisse que ao voltares, és melhor do que quanto te foste…

Eu agradeço a “Deus” por tudo que sofri, porque foi por ter sofrido tanto que acabei descobrindo através dos teus beijos que tu podes oferecer o que mais ninguém me ofereceu e que sempre procurei na vida em relação aos sentimentos. Por essa razão eu não quero deixar-te partir para outros braços sem antes ter uma oportunidade de viver para provar-te que sou digna do teu amor e do teu verdadeiro sentimento. Eu confesso que a partir do momento que os meus lábios tocaram nos teus, esqueci totalmente da vida e e de todo um passado que muito me fez sofrer, até os nossos lábios se encontrarem daquela forma tão boa e calorosa. Quando os nossos lábios se encontraram, eu sabia que a tua intenção não foi a de pensar em mim ou nos meus beijos sedentos de desejos, porque não era eu que tu estavas a beijar e não era eu quem estava no teu coração e nos teus pensamentos naquele exacto momento de descoberta e emoção.

O que importa agora? O que importa é que nós dois procuramos as mesmas coisas num instante que a nossa mente estava centrada e envolvida; num passado recente de tristeza, melancolia, dor, sofrimento, angustia, arrependimento, solidão tivemos, mas tenho a certeza de que na ansiedade de beijar quem realmente estava a desejar e de ir ao encontro da total liberdade um do outro, acabamos descobrindo que ainda somos capazes de superar o passado para voltar a amarmo-nos novamente.

O que senti foi de grande importância para o meu ser, e para mim não importa se nós ainda vamos ou não viver momentos lindos como este num futuro próximo. O que importa é que pela primeira vez, eu não tive medo de descobrir o segredo e o mistério…É assim que um homem e uma mulher se encontram e se conhecem para uma nova vida a dois. É assim que nasce uma afinidade. É assim que nasce um sentimento. É assim que nasce a cumplicidade, a lealdade, a compreensão e a fidelidade entre duas pessoas do sexo oposto e que nunca tinham tocado uma na outra, desta nova forma renascida… É assim que nasce uma união e, é assim que nasce um grande e eterno amor. So te peço que acredites…
Bj sempre

sexta-feira, 18 de julho de 2008

O Urso do colar da lua crescente

( os contos deixam as memórias vivas de vozes e ritos passados)

Em tempos, havia numa casa, um casal, e desse casal um dia nasceu uma criança. E na casa mesmo ao lado, vivia também outro casal, do qual, um dia também nasceu uma criança. Um menino e uma menina.
E as famílias de amigas que eram, achavam que um dia mais tarde as crianças deviam juntar-se. E os anos passaram, e o destino ou a vontade das famílias, fez com que anos mais tarde, os jovens se casassem.
Mas a felicidade dos dois foi curta, porque veio a guerra, e o homem teve que partir...
Dizem que a última noite, foi uma noite de beijos, carícias e abraços. E o homem partiu com saudade, e a mulher ficou à espera que o seu homem voltasse da guerra.
E os dias passaram. Todas as manhãs, a mulher ao acordar, arrumava a casa, aprontava o almoço e a ceia, como se o seu homem tivesse prestes a entrar pela porta de casa; mas nada.
E passaram dias, semanas, meses e até anos.
Até que ao cabo de 7 anos, a mulher assomou-se às portadas da casa e viu aparecer por entre a poeira dos caminhos, um ser que não reconhecia como seu. Era um homem que tinha estado 7 anos na guerra e que ela não reconhecia como o seu homem. Trazia longas barbas, assim como os cabelos longos e desgrenhados, unhas sujas e compridas e um olhar de bicho. E em vez de entrar em casa que deixara há tanto tempo e que a sua mulher aprontara com tanto carinho; refugiou-se nas matas ali perto, e comportava-se como se fosse um bicho... para quem durante 7 anos esperara o seu homem...
Então, a rapariga, ouviu falar, que ali perto na aldeia, vivia uma velha que sabia ARTES, e não perdendo tempo, pôs-se a caminho.
Ao entrar na casa da velha, ela estava sentada à roda do lume, de costas voltadas para a porta, e a rapariga não precisou de dizer quem era, nem ao que vinha, e a velha disse-lhe:

- Entra filha, entra; que sei ao que vens... queres recuperar o coração e o amor do teu homem, não é verdade?
Eu sei como resolver o teu problema... mas... para o conseguir, tens que me trazer uma coisa muito rara. Um pêlo. Um pelo do urso que vive lá cima na montanha; o urso do colar da lua crescente...


Muitos homens, homens fortes tinham já tentado defrontar a fera, e todos eles tinham fracassado, como é que aquela velha queria que uma mulher frágil como ela, subisse ao cimo de tão alta montanha e defrontasse a fera?

- Rapariga, acredita. Quando uma mulher quer, tudo consegue...
- Senhora, como é que uma mulher tão frágil como eu pode subir ao cimo de tão alta montanha, os perigos são tantos e...

- Cala-te, moça. Aprende a confiar. E agora vai e traz-me um pelo do urso que vive lá cima na montanha, e com ele conseguirei recuperar o coração e o amor do teu homem!

A mulher apressou-se a regressar a casa, tratou de se agasalhar porque a montanha era fria e de arranjar um saco com mantimentos, e pôs-se a caminho.

Primeiro, começou por atravessar os rios infestados de bichos que se colavam às pernas e aos pés e os faziam sangrar, qualquer homem ou qualquer mulher, teriam desistido, mas aquela mulher não. Aquela mulher, era uma mulher apaixonada e acreditava que a solução para os seus males, estava lá no cimo da montanha, e continuou a subir.
À medida que ía subindo, o frio aumentava, até que a certa altura, começou a chover, e as suas roupas colavam-se ao corpo gelado. Os galhos das árvores fustigavam-lhe o rosto e o corpo deixando chagas profundas... qualquer homem ou qualquer mulher, teriam desistido, mas aquela mulher não.
A certa altura, começou a nevar, e os seus pés feridos e as suas mãos estavam rouxas.
Até que por fim, chegou ao cimo da montanha, lá em cima onde vive a fera, epor todo o lado se viam as bostas que o urso ia deixando pelos caminhos. E a mulher com muito cuidado, aproximou-se da entrada da gruta, onde a fera se acoitava e de onde se podiam ouvir os seus enormes roncos, e com todo o cuidado tratou de lá deixar alguma comida, de seguida, refugiou-se nas matas ali perto e esperou, esperou que a fera viesse comer. Até que ao cabo de algum tempo, o enorme animal saiu da gruta, aproximou-se da comida, 1º cheirou, depois abocanhou os pedaços de comida que a mulher lá deixara. Ao 2º dia aconteceu exactamente a mesma coisa, e ao 3º também. E durante 6 dias aquela mulher que nada tinha de seu, apenas possuía uma vontade enorme de levar consigo um pelo branco do urso; alimentou a fera.
Ao 7º dia, não restava mais nada para comer, senão um naco de pão seco e duro, a mulher aproximou-se devagar da entrada da gruta e pousou o pão no chão, mas em vez de se refugiar nas matas, deixou-se ficar ali mesmo.
A fera saiu de mansinho e veio até junto da mulher, 1º cheirou o pão e de seguida devorou-o, depois começou a cheirar os pés e as pernas ensanguentadas da mulher, abriu a sua enorme boca munida de enormes presas, levantou-se nas patas traseiras e ergueu uma das patas munida de fortes garras, e tinha 3 vezes o tamanho daquela mulher, mas der repente parou a sua enorme pata no ar, porque uma voz uma voz fininha vinda de dentro lhe disse:

- Urso do colar da lua crescente, sou eu que há 7 dias te alimento e só quero em troca um pelo. Um pelo desses que tens aí em volta do teu pescoço em forma de lua crescente.

E dizem que por momentos os seus olhares se cruzaram, e a fera viu nos olhos daquela mulher, o seu passado, o seu presente e o seu futuro. E muito de mansinho, a fera baixou-se, inclinou a sua enorme cabeça e deixou que aquela mulher colhesse um pelo.

- Muito obrigado Sr. Urso, muito obrigado.

A mulher voltou para casa e levou muito menos tempo a descer a montanha do que aquele que tinha levado a subir, entrou em casa da velha, onde esta continuava exactamente no mesmo lugar...

- Entra filha, entra. Ah! Vejo que trouxeste o pelo. E é branco, branco como a mais pura neve, e cheira a mato e a esteva... e sabe a frutos silvestres. Rapariga conseguiste! Sabes o que vou fazer com este pelo?

A esperança acendeu-se de novo nos olhos daquela mulher.
E a velha zás, jogou o pelo no lume!

- Senhora que fizeste, acabaste de destruir em segundos o que levei tanto tempo a conseguir. A escalada da montanha foi imensa e os perigos tantos e tu...

- Cala-te moça! Aprende a confiar...
Vai para tua casa e conquista o teu homem como conquistaste a fera.


E BENDITO E LOUVADO, MEU CONTO JÁ ESTÁ TERMINADO!

Frase do dia:


"Eu sou o teu porto–de–abrigo, estarei sempre ao teu lado, sempre que precisares."

Se eu morrer antes de ti...


Se eu morrer antes de ti, faz-me um favor:
Chora o quanto quiseres, mas não te zangues com Deus por Ele me ter levado.
Se não quiseres chorar, não chores.
Se não conseguires chorar, não te preocupes.
Se tiveres vontade de rir, ri.
Se alguns amigos contarem algum facto a meu respeito, ouve e acrescenta tua versão.
Se me elogiarem demais, corrige o exagero.
Se me criticarem demais, defende-me.
Se me quiserem fazer de santa, só porque morri, mostra-lhes que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser a santa que me fazem...
Se me quiserem fazer de demónio, mostra que eu talvez tivesse um pouco de demónio, mas que a vida inteira eu tentei ser amiga e fazer o bem.
Espero estar com Ele o suficiente para continuar a ser útil a ti, lá onde estiver.
E se tiveres vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diz apenas uma frase:
- Foi minha amiga, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus!
- Aí, então derrama uma lágrima.
Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal.
Outros amigos farão isso no meu lugar.
E, vendo-me bem substituída, irei cuidar de minha nova tarefa...
Mas, de vez em quando, da uma olhada na direcção do Céu.
Não me verás, mas eu ficarei muito feliz vendo-te olhar.
E, quando chegar a tua vez de partir, aí sem nada a separar-nos, vamos viver, o que já não é possível em outro lugar…
Acreditas nessas coisas?
Eu própria não sei se acredito…
Então pensa forte, para que nós vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos como quem soube viver bem.
Amizade e amor, só fazem sentido trazendo o céu para mais perto de nós, podendo assim viver um outro começo.
Mas, se eu morrer antes de ti, acho que não vou estranhar o infinito...
"Ser teu amigo... Já é um pedaço dele..."